O bom filho a casa torna

Talvez tenha sido um erro ter sido promovida, um dia, de repórter a editora. Meu barato é apurar, entrevistar, escrever. Durante esses anos em que estive fora do Brasil, achei que era impossível exercer esse jornalismo de rua. “Não domino a língua”, me sabotava. Então, dissertava sobre maternidade, mas só descrevia minhas experiências. Falava sobre o passado quando queria explorar o futuro. Sonhava com o dia em que conseguiria juntar a paixão pela escrita com o meu dia a dia de mãe, como fazem com maestria a Ju em seu Comadre e a Ana Holanda com o Minha mãe fazia.

Queria me sentir produtiva, mesmo nessa vida de expatriada, como a Mel em seu blog Vivendo en el México Mágico, a Ana com seu Pitaya.mex e a Carol com seu The Beyond Borders Project.

Quando soube que me mudaria do México, num primeiro momento meu coração partiu. Depois, encarei como um sinal. Toda mudança traz uma nova perspectiva de vida. Era hora de parar de ter pena de mim por não estar no Brasil e, consequentemente, fora das redações, e correr atrás.

Resolvi visitar lugares e expor impressões. Acho que Bogotá raramente está no topo da lista de cidades para onde as pessoas pensam viajar. Deveria. Existe um monte de coisa bacana. Na minha pauta, pelo menos umas dez.

Escolhi o Museu do Botero para começar. Quando morei em NY, meu prédio ficava perto de uma espécie de shopping que tem em Columbus Circle, o Time Warner Center. Logo na entrada havia duas esculturas enormes dele, um casal nu, Adam e Eve.

Chamar de enorme uma escultura do Fernando Botero é quase um pleonasmo. O artista colombiano, nascido em 1932, em Medellin, adotou como estilo o exagero das formas. O que muita gente chama de gordo, defeituoso ou monstruoso ele define assim: “Los cuerpos voluptuosos son sinónimo de sensualidad.”

Aqui, Botero pintou um auto retrato (e eu quis fazer uma selfie com ele)

Antes de #partiumuseu, li algumas entrevistas com ele e, em todos os veículos, uma pergunta parecia não querer calar: Por que você pinta gordas?

 –     Não pinto gordas. Ninguém acredita em mim, mas é verdade. Eu pinto volumes. Quando pinto uma natureza morta também pinto com volume, se pinto um animal ele também será volumoso, se pinto uma paisagem, igual. Sou atraído pelo volume, a sensualidade da forma – afirmou o colombiano ao jornal espanhol El Mundo.

Olha o cachorro

Em tempos de luta contra a gordofobia, Botero nos faz pensar – e sentir. Torna-se impossível, ao parar em frente a uma de suas esculturas, não achá-la extremamente sexy. Eu pirei.

Já vinha pensando no assunto há um tempo. Preta Gil foi capa da revista Cosmopolitan (a antiga Nova, que fala basicamente sobre sexo), desse mês. Desabafou em seu instagram: "Essa é a prova que estamos mudando e transformando os padrões que, antes, escravizava e sufocava a maioria das mulheres. Existe beleza sim numa mulher de 42 anos, gordinha, negra e avó!!!

Recentemente, Fluvia Lacerda arrebentou na capa da Playboy. “Que incrivelmente maravilhoso é ver tanta repercussão positiva quanto a ser a primeira mulher gorda na capa da Playboy Brasil! Muito grata por tanto carinho e apoio", escreveu a modelo plus size, que tem 36 anos e é mãe de dois filhos.

A apresentadora Fabiana Saba só no ano passado voltou a modelar por ser considerada a cima do peso. "Acredito que a moda deveria ser pra todos: magra, gorda, negro, branco, asiático, enfim... Temos que representar todas as belezas! Esse é o futuro! Assim criaremos uma geração mais saudável e segura", disse em entrevista a revista Glamour.

Fica aqui a minha reflexão sobre como um artista de 85 anos pode ser tão moderno, sobre a riqueza de morar em outro país, sobre a conexão entre cultura e auto aceitação, sobre o preconceito enraizado e sobre Narciso achar feio o que não é espelho.  

Eu já namorei gordinho, assim como magrelo. Porque pra mim…

Ficou com vontade? O Museo Botero fica em La Candelaria, centro histórico da cidade

Onde: Calle 11 No. 4-41, Bogotá

Quando: de segunda a sábado das 9am às 7pm (terça não abre) e domingo das 10am às 5pm

Quanto: DE GRAÇA!!!